Grito d@s excluíd@s 2017
Por Laísa Campos
Jesus vivia sem teto e trabalho, como muitos indigentes e excluídos, buscando o Reino de Deus e sua justiça. Jesus declara que o Reino de Deus é para os pobres e os convida para a esperança, não para a resignação, porque quer que eles recuperem sua dignidade.
Ao dizer da pobreza Ele não fala de pobreza abstrata, fala dos pobres que trata enquanto percorre as aldeias, homens e mulheres sem possibilidade de um futuro melhor. Porque os pobres? Eles são melhores? Jesus nunca disse que eles são melhores. Deus se coloca do lado deles não porque merecem, mas porque precisam, porque eles sofrem e Deus defende aqueles que ninguém mais defende.
Dentro de uma perspectiva de Igreja profética, o seguimento de Jesus nos convoca a um compromisso com estes pobres e excluídos, e pensando nisso, em 1994, como gesto concreto da Segunda Semana Social Brasileira, a Igreja do Brasil instaura o Grito dos Excluídos. O primeiro acontece em 1995, com o Lema “A Vida em Primeiro Lugar”, que se manteve ao longo dos 23 anos de história de Gritos. No primeiro ano, em resposta à Campanha da Fraternidade que tinha como tema “A Fraternidade e os Excluídos”, o Grito se propõe a ser voz de denúncia às exclusões, e a valorizar os sujeitos sociais.
Sempre atento à conjuntura atual, neste ano de 2017, o Grito dos/as Excluídos/as traz como tema “Vida em Primeiro Lugar: Por direitos e democracia, a luta é todo dia!”, e convoca a todos e todas das Igrejas, pastorais, sindicatos, partidos, movimentos e organizações populares comprometidos com a causa dos excluídos a, assim como na Primeira Carta de Pedro às comunidades, “estar sempre prontos a dar razão da nossa esperança a todos que pedirem” (1Pd 3, 15b), e nos colocar lado a lado com os pobres e excluídos, e de forma alegre, aberta e plural, organizar nossas esperanças de uma sociedade melhor.
A data da manifestação popular é o dia 7 de setembro, dia da Independência do Brasil porque queremos refletir sobre nossa soberania à serviço das necessidades básicas da população. Queremos um Estado que esteja à serviço da nação, garantindo os direitos de cada cidadão e cidadã. Queremos ser voz profética na denúncia dos males que afetam a humanidade e construir juntos um mundo onde seja possível ser e estar com vida digna.
No ano de 2017, sofremos um golpe em nossa democracia, vimos nosso direito à eleições diretas serem retirados de nós e as reformas que estão sendo propostas – trabalhista e previdenciária – são na realidade desmontes e retirada de direitos conquistados pelos trabalhadores e trabalhadoras ao longo dos anos, que afetarão a todos e todas, e mais: são sinais de morte para os mais pobres da população. Não podemos ficar calados e caladas diante da situação. Precisamos seguir os ensinamentos de Cristo que não se calou frente aos vendilhões do Templo que exploravam o povo.
É necessário olhar para nosso Estado e perceber que sua relação com a economia não está a serviço de todas as pessoas, e que sua relação com a mídia é de mascarar e manipular as informações na defesa de uma cultura do consumo. Toda essa realidade se opõe à Igreja em saída que o Papa Francisco defende: “essa economia mata, queremos uma mudança de estruturas” (Papa Francisco – Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra, no dia 09-07-2015).
Como um dos lugares possíveis de fazer valer nossa voz, na perspectiva da construção coletiva de uma bonita manifestação, no próximo dia 29 de maio, às 19 horas, acontecerá, no Salão da Igreja São José, no centro de Belo Horizonte, um lançamento do Grito dos Excluídos. Será momento de olhar para o chão de nossa realidade e perceber os gritos que são cotidianamente silenciados e fazê-los emergir juntos, e ecoar por todos os municípios de nossa Arquidiocese. Contaremos com a presença de Dom Otacílio de Lacerda, bispo auxiliar e referencial para Ação Social e Política. Você é convocado e convocada a estar conosco, partilhando tudo aquilo que lhe causa indignação perante as injustiças atuais: “Não pode faltar ninguém no grito dos/as excluídos/as”.
Laísa Silva Campos é psicóloga, especialista em juventude. Compõe a equipe de assessoria da Pastoral da Juventude na Arquidiocese de BH e da Cáritas Regional Minas Gerais. É membro da equipe de colaboradores jovens do Observatório da Evangelização.
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