“Deus aprecia unicamente a fé professada com a vida, porque o único extremismo admitido aos crentes é o da caridade.” Francisco celebra a missa no Air Defence Stadium da aeronáutica militar. Razões de segurança aconselharam uma área militar bem protegida. Finalmente, ele pode passar em um carro descoberto e se aproximar dos fiéis da pequena Igreja Copta Católica, que chegaram a 30 mil, um número muito elevado, se considerarmos que são apenas 0,3% da população egípcia.
“Qualquer outro extremismo não vem de Deus e não agrada a Ele!” No estádio, há também fiéis muçulmanos e os coptas ortodoxos, um sinal importante. Na sexta-feira, no seu primeiro dia no Cairo, Francisco tinha invocado uma “aliança” de todas as religiões contra o fanatismo homicida. E agora concentra a homilia sobre a autenticidade do sentimento religioso: “A verdadeira fé é aquela que nos leva a proteger os direitos dos outros com a mesma força e o mesmo entusiasmo com que defendemos os nossos”. Até exclamar: “Para Deus, é melhor não crer do que ser um falso crente, um hipócrita”.
O testemunho
Um tempo esplêndido, sol e vento seco do deserto. A missa é em latim e em árabe. Para os católicos egípcios, é um dia memorável: “É o dia mais bonito da minha vida. Que o papa traga a paz ao Egito”, diz uma senhora comovida. Na sexta à noite, na nunciatura, onde ele descansou, ele tinha cumprimentado 300 jovens peregrinos que chegaram de todo o país: “Vocês são corajosos”.
É a essas pessoas e ao seu testemunho exemplar que Francisco se dirige, mas as palavras das Bem-aventuranças falam para todas as religiões: “A verdadeira fé é aquela que nos torna mais caridosos, mais misericordiosos, mais honestos e mais humanos; é aquela que anima os corações para levá-los a amar a todos gratuitamente, sem distinção e sem preferências; é aquela que nos leva a ver no outro não um inimigo a derrotar, mas um irmão a amar, a servir e a ajudar; é aquela que nos leva a difundir, a defender e a viver a cultura do encontro, do diálogo, do respeito e da fraternidade; leva-nos à coragem de perdoar quem nos ofende, a dar uma mão a quem caiu; a vestir quem está nu, a saciar o faminto, a visitar o encarcerado, a ajudar o órfão, a dar de beber ao sedento, a socorrer o idoso e o necessitado”.
“Deus detesta a hipocrisia”
Francisco fala em italiano. Um intérprete traduz frase por frase em árabe. A leitura do dia é o relato dos discípulos de Emaús. “Na escuridão da noite mais escura, no desespero mais chocante, Jesus se aproxima deles e transforma o seu desespero em vida, porque, quando desaparece a esperança humana, começa a brilhar a divina.”
A experiência deles, explica o papa, “nos ensina que não adianta encher os lugares de culto, se os nossos corações estão esvaziados do temor de Deus e da Sua presença; não adianta rezar, se a nossa oração dirigida a Deus não se transforma em amor dirigido ao irmão; não adianta tanta religiosidade se ela não for animada por muita fé e por muita caridade; não adianta cuidar da aparência, porque Deus olha para a alma e o coração, e detesta a hipocrisia”.
A despedida
A despedida aos fiéis egípcios foi no sábado: “Agora, como os discípulos de Emaús, voltem para a Jerusalém de vocês, isto é, para a sua vida cotidiana, para as suas famílias, para o seu trabalho e para a sua cara pátria repletos de alegria, de coragem e de fé. Não tenham medo de abrir o coração de vocês à luz do Ressuscitado e deixem que Ele transforme a incerteza de vocês em força positiva para vocês e para os outros. Não tenham medo de amar a todos, amigos e inimigos, porque, no amor vivido, está a força e o tesouro de quem crê!”.