“Em relação à crescente oposição ao Papa Francisco, ela tem tomado, muitas vezes, tamanha proporção que vai muito além de um necessário senso crítico. Em nome de uma pretensa defesa da ortodoxia, fecha-se a qualquer reflexão autocrítica tão necessária numa caminhada histórica.”
A Igreja Católica se destaca, entre as suas tantas riquezas, pela diversidade de carismas. Estes se refletem nas suas ordens ou congregações religiosas, comunidades, pastorais, grupos e nos diversos movimentos. Segundo o apóstolo Paulo,
Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes atividades, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, em vista do bem de todos… (I Cor 12, 4-11).
Porém, quando qualquer cristão não dá atenção ao que Paulo revela sobre a diversidade de dons na Igreja, corre-se o risco de se considerar o verdadeiro portador da fé, questionando a pluralidade de tradições presentes na única Tradição da Igreja. Esta falta de atenção e reconhecimento da beleza da diversidade como dom de Deus pode cegar. No contexto eclesial, chega-se ao ponto de questionar o Papa. O Papa tem a função de conservar a fé, naturalmente ser conservador, e ser um elo de unidade entre os cristãos católicos.
É importante, na vida eclesial, ter um senso crítico e questionar as posições que uma autoridade toma, seja o pároco, o bispo da Igreja local ou mesmo o bispo de Roma. Mas uma postura radicalmente contrária, sem o necessário diálogo crítico e autocrítico, pode levar a deturpar a legitimidade do dissenso.
Em relação à crescente oposição ao Papa Francisco, ela tem tomado, muitas vezes, tamanha proporção que vai muito além de um necessário senso crítico. Em nome de uma pretensa defesa da ortodoxia, fecha-se a qualquer reflexão autocrítica tão necessária numa caminhada histórica. Esquece-se que na verdade, o Papa tem como missão zelar pela fé da Igreja. Que pretende seus críticos quando o acusam de cometer heresias? Diante do silêncio desta resposta, Francisco não se deixa intimidar. Ele vem tomando posturas firmes em relação a seguimentos “conservadores” que se recusam a acolher a necessária conversão pastoral numa Igreja que se assume como “sempre reformanda”.
O exegeta Raymond E. Brown em “A comunidade do discípulo amado” (1983) diz que quando se fala em heresia logo se pensa na defesa radical de novas ideias, porém, na história cristã as heresias foram conservadoras. Nelas se percebe, inclusive, a “tendência de se apegar às questões teológicas antigas, quando novas questões levaram o grosso do cristianismo a procurar novas respostas” (cf. p.83-84). Por exemplo, no Concílio de Nicéia (325 dC.) a posição de Ário – que negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus Pai e que se fundamentava exclusivamente na Bíblia – era contrária às ideias propostas por Atanásio de Alexandria. Não obstante a isso, ela foi condenada como heresia e a proposta Atanásio, que respondia a questões novas, não foi levantada nos períodos em que os livros do Novo Testamento foram escritos, por responder aos sinais dos tempos. As ideias de Atanásio foram acolhidas como “verdadeiras na direção das Escrituras”.
Como se vê, quando um Papa assume uma postura que é coerente com o contexto em que se vive a fé e que dialoga com as Sagradas Escrituras, principalmente com o Evangelho, ele está sendo ortodoxo. Como ainda afirma Brown:
A “Ortodoxia”, portanto, não está sempre em poder daqueles que procuram apegar-se ao passado. Pode-se encontrar um critério mais verdadeiro na direção para a qual o pensamento cristão está tendendo, mesmo quando esta direção sugere que formulações passadas da verdade têm de ser consideradas inadequadas para responder a novas questões. (BROWN, 1983, p. 84).
Finalizando, fica a seguinte questão: o Papa Francisco, ao propor um novo modo de ser Igreja, está traindo a memória de Jesus ou pode ser considerado, de fato, conservador (conservar a fé), tradicional (zela pela Tradição da Igreja) e ortodoxo (pois sabe por onde caminha ao tomar as decisões)?
Paulo Vinícius Faria Pereira é membro da equipe de colaboradores jovens do Observatório da Evangelização. Formado em Ciências Sociais pela PUC Minas, atualmente está concluindo o curso de Teologia. É professor concursado da Rede Pública de Ensino.
A igreja católica tem suas bases firmadas controvérsia e autoritariamente lá pelo ano trezentos onde Cirilo “anatomizaram sua atuação” a ponto de não raro valer-se do recurso de “hordas de sacerdotes” denominados parabolanos, para pressionar, até a agressão, aqueles que não aderiam ou “ousavam” ter outra doutrina pessoal que não fosse a cristã conforme ele determinava ser. Foi contumaz usuário de apadrinhamentos políticos e conluios para diante de um cristianismo espontaneamente insurgente (com todas neo possibilidades possíveis), Desculpem-me o termo, mas, é em prol da exatidão do entendimento do que falo. Então , nosso personagem exerceu sua missão de vida, “com um olho no peixe e outro no gato”, defendendo o cristianismo e o rumo do barco, assegurando-se que estaria no timão… Peço vênia novamente. Mas hoje a igreja católica carece de uma credibilidade geral, dinâmica e holística, do restante da humanidade não católica. Sobretudo daqueles que em cima do muro, procuram na Boa Nova de Jesus, caminhos para o rumo espiritual de suas vidas. Assim, acredito eu, essa postura, retratada profeticamente por Paulo em Gálatas 1:8 (válida mesmo hoje, pela profusão hodierna de fundamentalismos heréticos de denominações de viés neopentecostal). De volta aos tempos de Alexandria, os primeiros clérigos cristão valeram-se de descaminhos condenados no evangelho para justamente firmarem as bases da boa nova para a dogmatização enviesada da fé cristã, e estabelecer o como ela “teria” de ser pregada “aos quatro cantos, aos gentios”…Isso valeu por séculos, mantido a ferro e fogo até que aprox. 1000 anos depois de Nicéa, sub-repticiamente agindo nos bastidores, partiu para a guerra declarada de extermínio das dissidências. Se por um lado higienizou o controverso, por outro causou desgastes e rachas profundos na fé, na imagem da igreja, dado o inconformismo com o modus operandi da igreja perpetuar sua primazia. Revoltas de teor “purista” e o surgimento de alternativas dogmáticas, multiplicaram-se no discurso de inúmeros filósofos e líderes religiosos, muitos regiamente recompensados com a escravidão, subserviência, o fio da espada, o esquecimento na masmorra, e o preferido dos cardeais inquisidores e outros degenerados da fé equivocada, a santa fogueira da inquisição. Mas para melhor expressar o ponto aqui defendido religiosos como Jan Huss, john Wyclif, Calvino e mais tarde Martin Lutero, lograram êxito, ironicamente por desvendarem a fé cristã para o entendimento laico, com marco na tradução da bíblia nas línguas dos fiéis, dissolvendo mistérios ocultos pelo mise-en-scène, pela reserva de domínio , pelo hermetismo do clericismo católico da época. O que resultou revelar o despotismo, a alienação do poder religioso temporal em favor de um poder político secular. Um desvio de conduta da igreja católica, que congelou a evolução do homem e o progresso tecnológico do mundo a uma idade das trevas que perdurou por 1400 anos, sob sua autoritária e cruel governança. Desgastes estes agravados pelos desvarios seculares de seus mandatários até o advento da Renascença & Iluminismo. O que provoca em nós contemporâneos, uma desafiadora e terrível constatação, uma “pós verdade”, um paradigma”! No qual a insatisfação pelo autoproclamado, contribuiu para que as promessas da fé…Embutidas na livre interpretação do “ide, crescei e multiplicai”, resultou ser cumprida pela filosofia autocne, pelo autoconhecimento resultante do inconformismo. Que logrou ressuscitar o exercício do livre-arbítrio, sem a culpa original. Que logrou despertar o homem indivíduo, libertando sua “pessoa física” da alienação a um poder mistificado e cruel que aprisionou sua liberdade de expressão. Que logrou trazer de volta o protagonismo do homem sobre seu destino sobre a terra, que não se confunda aqui, como “easy rider” mas sim dirigir seu destino pelas “boas práticas”. E a cereja do bolo, , a grande graça divina no homem pósadâmicoa, sua centelha divida, “anima & animus”, aquele quê de perscrutador e questionador do status quo, sobre si e sobre os fenômenos do mundo natural que o cerca. Isso posto, Hoje, quando falo de minha crença, exponho meu rito religioso, observo à dificuldade que internamente se ergue de ambos os lados para simples concordância! Mesmo admitindo-se em uníssono, a existência de um só Deus todo poderoso e criador do universo, poder-se-á ter tantas variações no rito de celebração, como o são as impressões digitais. Eu incluso obrigatoriamente. Difícil é segurar o ímpeto de incorrer nas mesmas práticas de Cirilo, por nos acharmos donos da verdade, aquela.
Saudações Fraternas
“Só o conhecimento liberta”