Com pouco destaque na mídia internacional e praticamente não repercutida no Brasil, uma decisão histórica do Papa Francisco poderá impactar profundamente a hierarquia católica.
O Observatório da Evangelização traduz, com exclusividade, o texto de Alberto Bobbio, publicado pela Revista Família Cristã, italiana, em 11 de março, sobre uma ousada iniciativa de Bergoglio acerca da eleição do seu Vigário. Um vigário é aquele que atua em nome de outro religioso, na paróquia, por exemplo, tem o poder de representar o padre; na diocese de Roma substitui o bispo de Roma, no caso, o Papa. Isso pode sinalizar uma tentativa do Papa de implementar uma nova estratégia para as escolhas de bispos em todo o mundo.
A proposta de Francisco para a sucessão do vigário da sua diocese é fazer uma consulta antes de anunciar o sucessor do cardeal Agostino Vallini, atual vigário. Essa consulta será feita não somente ao clero mas incluirá também os leigos.
É verdade que consultas para a indicação de bispos incluindo leigos já ocorreram pontualmente, como destaca a reportagem da revista. Porém, o fato atual torna-se altamente simbólico por se tratar da diocese da qual o Papa é o titular. Esse novo processo sinaliza, portanto, a intenção do Pontífice de “democratizar” a escolha dos bispos, considerados os sucessores dos apóstolos e os titulares (responsáveis diretos) de milhares de dioceses pelo mundo afora. O Papa colegiadamente com os bispos governa a Igreja, tendo como seus auxiliares ordenados os presbíteros e diáconos.
Tradicionalmente, a escolha dos bispos se reveste de especial cuidado e é tratada como um segredo de estado por Roma. Os processos de escolha envolvem consultas sigilosas feitas ao episcopado e a alguns poucos presbíteros escolhidos, mas gerenciadas pelas Nunciaturas Apostólicas (espécie de embaixada do Vaticano nos países). As Nunciaturas selecionam os possíveis candidatos e indicam os seus nomes à Congregação dos Bispos (espécie de ministério que auxilia o Papa nessa tarefa) que, por sua vez, repassa uma lista tríplice ao Pontífice, responsável final pela nomeação do episcopado.
O fato de as Nunciaturas Apostólicas terem o primado na escolha dos candidatos ao episcopado acaba por diminuir sobremaneira o poder das conferências episcopais de cada país. É notório, por exemplo, o fato de a maioria dos candidatos aprovados ao episcopado, normalmente, ter estudado por algum período em Roma.
Nesse sentido, a escolha dos bispos tende a se alinhar mais ao perfil de cada Pontífice. Isso explica a tendência mais conservadora do episcopado mundial na atualidade, reflexo do longo papado de João Paulo II e seu sucessor, Bento XVI.
Portanto, a iniciativa do Papa Francisco vem ao encontro da chamada reforma da hierarquia católica, à medida que caso esse empreendimento se institucionalize, as igrejas locais passarão a ter mais peso na indicação dos candidatos ao episcopado, diminuindo a incidência das Nunciaturas e, por extensão, de Roma, na escolha dos bispos.
A reportagem que reproduzimos abaixo, traduzida por Tânia Jordão, da equipe executiva do Observatório, lembra que certamente essa nova ação de Francisco despertará a ira dos setores conservadores, principalmente da Cúria Romana, que advogam por uma Igreja mais centralizada e hierárquica.
(Robson Sávio, da equipe executiva do Observatório)
Veja, abaixo, o texto:
Papa lança as prévias para a seleção de seu Vigário
Em uma decisão que, se espera, repercutirá bastante, Bergoglio convoca de surpresa párocos da diocese de Roma e inicia uma consulta abrangendo os fiéis que também poderão indicar nomes para o sucessor do cardeal Agostino Vallini:
O Papa Francisco traz-nos outra frente nova à rotina eclesial ao lançar as prévias para encontrar o sucessor de seu vigário na diocese de Roma, que substituirá o cardeal Agostino Vallini. Na sexta-feira, 10 março, à tarde, Bergoglio convocou inesperadamente 36 párocos da diocese de Roma, da qual o Papa é bispo, e pediu-lhes para indicar, por escrito, os problemas e as necessidades da diocese e qual deveria ser o perfil do novo vigário. Mas a novidade não pára por aí. Ele pediu, ainda, sugestões de nomes àqueles que desejassem apresentá-las e solicitou que tal consulta se estenda também aos fiéis leigos.
A Sala de Imprensa da Santa Sé, que anunciara a reunião algumas horas antes enquanto o papa estava retornando de um retiro em Ariccia, havia sublinhado que a reunião foi considerada “prática normal da vida da Igreja”. Mas, na realidade, é uma novidade sensacional, porque nunca antes na diocese do Papa se realizou uma consulta deste tipo. O Papa deverá receber as cartas no dia 12 de abril, quarta-feira santa. Assim, ele inicia outro processo que, certamente, despertará descontentamento entre conservadores e reabrirá o dossiê sobre as consultas para a nomeação dos bispos, algo que tem sido sempre um tema na agenda da Congregação dos Bispos. Geralmente, uma consulta dessas é iniciada pelo núncio apostólico, que, em seguida, envia um relatório ao Vaticano. Recentemente, foi anunciada, pelos meios de comunicação, a consulta para a sucessão do cardeal Angelo Scola, de Milão. A lista a ser consultada ainda não foi anunciada, mas nós sabemos que serão consultados também os leigos. Mesmo o C9, o Conselho de cardeais do Papa Francisco, que está reformando a cúria romana, se ocupou desse debate.
Em setembro, o Conselho analisou o projeto de um questionário pelo qual deverá considerar a adequação dos candidatos e dirigir a nomeação de um bispo em um nível mais pastoral e espiritual. Em suma, o Papa não quer decidir por si mesmo. No entanto, o problema já havia sido colocado no Sínodo de 2001 dedicado à figura do bispo. Então, o cardeal Carlo Maria Martini havia perguntado em seu discurso, “como fazer para garantir que a Igreja local também pode ser reconhecida pela maneira de ser de seu bispo, desde os procedimentos utilizados para buscar candidatos adequados.” Que haja não somente a consulta dos sacerdotes, mas, ainda, a do povo de Deus.
Um precedente holandês nos anos sessenta
Durante o Concílio de Trento, houve um longo e vivo confronto para reintroduzir o antigo costume da presença ativa das pessoas na nomeação dos bispos. Mas tal debate não levou a uma decisão. A questão da subtração de nomes por pressão do poder temporal foi decisiva. E o Código de Direito Canônico de 1917 insiste, precisamente, sobre o aspecto da liberdade. Mas hoje a história mudou completamente em relação há séculos atrás. Depois do Concílio Ecumênico Vaticano II, houve tentativas de algumas igrejas mais “progressistas” de eleger bispos. É o que aconteceu na Holanda, nos anos sessenta. Para a eleição do bispo de Den Bosch, em 1966, o Colégio dos bispos convidou a todos, mesmo os não-católicos, a se posicionar sobre as prerrogativas necessárias à função e acerca de nomes de possíveis candidatos. Participaram da consulta cerca de dez mil pessoas e Paulo VI nomeou bispo o nome que saiu daquela consulta. A mesma coisa aconteceu com o bispo de Breda um ano mais tarde, em que o nome veio de todo o Conselho Pastoral, também composto por trinta leigos.
E o mesmo procedimento foi seguido em algumas dioceses alemãs e suíças. Na Suíça, em três dioceses, por um antigo privilégio, a nomeação cabe à assembleia da catedral. O papa deve apenas ratificar. Este é o caso das dioceses de Basileia, São Galo e Coira, de acordo com um sistema confirmado por Pio XI em 1926 e assimilado pela Concordata suíça de 1928. Mas, em 1990, houve problemas para a nomeação do bispo de Coira, o que despertou controvérsias. O bispo, monsenhor Wolfgang Haas, que não era um dos candidatos propostos pela assembleia da catedral, foi nomeado por Roma. Protestos eclodiram e, no final, a Santa Sé teve de proceder ao desmembramento da diocese de Coira em duas partes, com a criação da diocese de Vaduz, em Liechtenstein, para onde ele foi transferido, promovido a arcebispo. Ao longo dos anos tem havido muitas iniciativas de associações de leigos e sacerdotes para reabrir o debate acerca das eleições dos bispos.
Na Itália, a Associação “Nós somos Igreja”, em 2002, propôs um projeto complexo para buscar o sucessor de Carlo Maria Martini e a mesma coisa foi feita para a sucessão do Cardeal Dionigi Tettamanzi. Em Treviso, em 2009, oito sacerdotes pediram em uma carta aberta a possibilidade de consultar outros sacerdotes e demais pessoas, inclusive leigos para escolher o sucessor do Monsenhor Andrea Mazzocato. Mas esses oito foram criticados por outros sacerdotes, que temiam o risco de uma “campanha”. Bergoglio, agora, é que com o espetacular êxito de Roma, abre novamente um processo antigo.
TEXTO ORIGINAL: famigliacristiana
O papa de verdade iluminado e corajoso. Deus o guie.
Obrigado, Hilários, por participar e enriquecer o nosso Observatório.
Rezemos pelo ministério do Papa.
Com estima fraterna,
Edward Guimarães
Secretário executivo do Observatório da Evangelização PUC Minas
Papa Francisco esta no caminho certo. Que Nossa Senhora sempre o acompanhe.
Obrigado, Michel, sua participação enriquece o nosso Observatório.
Um grande abraço,
Edward Guimarães
Secretário Executivo do Observatório da Evangelização
É acompanhar a evolução dos tempos.
Obrigado Antônio por participar e enriquecer o nosso Observatório da Evangelização.
Um forte abraço repleto da esperança que brota da Páscoa que se aproxima.
Edward Guimarães
Secretário Executivo do Observatório
Os “ventos” do Concílio continuam soprando. O santo Padre, creio n isso, é assistido pelo Espírito Santo e devemos atendê-Lo prontamente com obediência filial e amor fraternal , pois pertencemos a um redil cujo Pastor vive pelo bem de seu rebanho.
Obrigado, Marcelo, por participar do nosso Observatório. Seu comentário enriquece nosso serviço eclesial.
Um abraço fraterno com votos de abençoada Páscoa.
Edward Guimarães
Secretário Executivo do Observatório da Evangelização