Vaticano, 02-05/11/2016
“Os movimentos querem pão para hoje, mas não fome para amanhã: temos reivindicações imediatas, mas também uma utopia a propor, que contempla a reforma agrária, a integração urbana e a inclusão pelo trabalho. Marchamos por uma sociedade sem escravos nem excluídos, com terra, teto e trabalho para todos”
Juan Grabois, cofundador da Confederação de Trabalhadores da Economia Popular – CTEC e consultor do Pontifício Conselho Justiça e Paz, um dos organizadores do 3º EMMP
Com a participação de 170 delegadas e delegados de movimentos populares – que organizam trabalhadoras e trabalhadores da economia popular, do campo e de diversos setores que representam os excluídos da sociedade – oriundos de 65 países, teve início nesta quarta-feira, 02/11/2016, o 3º Encontro Mundial dos Movimentos Populares com o Papa Francisco no Vaticano com o objetivo de definir propostas de ação no campo social. São pessoas vindas das periferias de todo o mundo, com o firme desejo de encontrar soluções concretas para as dores e dificuldades dos mais pobres.
Segundo o Cardeal Peter Turkson, do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, sobre o sentido deste 3º EMMP:
“Não somente denunciar a ditadura do dinheiro e a injustiça social, mas dar aos pobres, aos movimentos de base, a possibilidade de se conhecerem e dialogar, para se tornarem eles próprios protagonistas daquela mudança que todos desejamos”.
Nestes quatro dias do Encontro, estão sendo debatidos os diferentes eixos que historicamente vem marcando o evento e representam preocupações latentes tanto para os movimentos populares quanto para o Papa Francisco: Terra, Teto e Trabalho.
Neste Encontro, além da partilha dos desafios e da troca de experiências, buscam-se novas estratégias e horizontes para a defesa da dignidade da vida. As discussões visam ampliar as perspectivas de análise e ação a partir das seguintes temáticas: Povos e Democracia; Território e Natureza; Refugiados e Desalojados do mundo. O objetivo maior é o da criação de novas ferramentas, a partir das experiências vividas pelos protagonistas em seus movimentos.
Segundo Juan Grabois, da Comissão Organizadora do EMMP,
“há um grande número de organizações que estão integradas e organizadas pelos excluídos e que não estão resignados à miséria imposta a eles e resistem com solidariedade ao paradigma tecnocrático atual. O diálogo entre nós e a Igreja tem o objetivo de acompanhar, incentivar e visibilizar esses processos que surgem das bases populares”.
Em função dos eixos que estruturam o EMMP diz:
“os 3Ts –Terra, Teto e Trabalho – continuam a ser o coração dos nossos Encontros. Direitos estão sendo violados por um sistema injusto que deixa milhões de camponeses sem terra, famílias desabrigadas e trabalhadores sem direitos. Por isso os principais protagonistas de nossos Encontros são os três principais setores sociais mencionados, marginalizados do campo e da cidade”.
Juan Grabois frisou, por fim, a urgência de:
“os pobres deixarem de ser vítimas de políticas sociais definidas, sem a sua participação, para se tornar protagonistas de um processo de mudança, que lhes permite o acesso aos direitos mais sagrados como a terra, teto e trabalho”.
O Painel de Abertura aconteceu na quarta-feira às 14h e foi realizado pelo Comitê de Organização:
- Peter Turkson, do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz – Vaticano;
- João Pedro Stédile, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) – Via Campesina – Brasil;
- Juan Grabois, Movimento de Trabalhadores Excluídos (MTE) – Confederação de Trabalhadores da Economia Popular (CTEP) – Argentina;
- Jockin Arputham, National Slum Dwellers Federation of India – Slum Dwellers International (SDI) – India;
- Xaro Castelló, Hermandad Obrera de Acción Católico (HOAC) – Movimento Mundial de Trabalhadores Cristãos (MMTC) – Espanha.
Os testemunhos concretos, vindos dos cinco continentes, estão relatando o estado de saúde de suas democracias, democracias muitas vezes somente de fachada. Estão explicitando sobre as condições precárias e a violação dos direitos dos trabalhadores, da trágica condição feminina, da marginalidade, na agenda política, de temas que dizem respeito aos, socialmente, mais frágeis e vulneráveis.
A título de exemplo, segundo o Pe. Luigi Ciotti, dos Grupos Abele e Libera:
“Os pobres têm necessidade de casa, trabalho, cuidados, mas antes de tudo têm necessidade de reconhecimento de sua dignidade: não basta acolher, é necessário reconhecer. Não podemos construir esperança, se não partirmos de quem foi excluído da esperança. É a partir dos excluídos que podemos esperar novamente, porque a esperança ou é de todos ou não é esperança”.
E retomou a ideia de ecologia integral, tão cara ao Papa Francisco:
“Tem razão o Papa Francisco, ao nos recordar que não existem duas crises separadas – uma social e uma ambiental – mas uma só complexa crise socioambiental. Também para nós é importante não esquecer-nos daquela ecologia integral, porque o mundo é um ecossistema: não se pode agir sobre uma parte sem que as outras sintam isto”.
Ele também insistiu no tema da justiça social e na importância da acolhida:
“A liberdade e a dignidade não são conceitos abstratos, mas valores fundados na justiça social. E então é justo rejeitar em nosso país a diferença instrumental e hipócrita entre “refugiados de guerra” e “migrantes econômicos”. Nós rejeitamos esta distinção, porque também os migrantes econômicos fogem do sofrimento, das crises ambientais ou por outras razões. A imigração nos coloca um desafio: uma cultura viva, autêntica, sólida, não tem nunca medo de abrir-se aos outros”.
O intercâmbio das delegações participantes será concluído no dia 5 de novembro quando, em diálogo com o Papa Francisco, será apresentado o Documento final com as propostas do Encontro.
Movimentos brasileiros
Do Brasil, participam integrantes dos seguintes movimentos: Conselho de Entidades Negras (Conem), Central dos Movimentos Populares (CMP), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), União Nacional Por Moradia Popular (UNMP).
Site: movimientopopular.org